quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Até o sol raiá



Um conto nordestino fantasiado na simplicidade e na riqueza dos bonecos de barro do sertão.

Viva o nordeste!!!!

Ser artista

Sou artista
Sei que sou
Bato no peito
Grito ao vento
Ao som do silêncio
Crio meu mundo
Minhas verdades
Encantatórias
Perdido no escuro
De meus pensamentos
Sob a quentura e clarão
Que me aquece, me anima
E me cega no espaço que é meu
Onde sou rei e plebeu
Homem e menino
Onde sou o que sou
Artista
Sem palco
Sem crédito
Sem rua, sem leito, sem valor
Invento meus sonhos
Sorrio para o mundo
Com fome de pão
E suspiro cansado
Do fundo da alma
Me embalo no carrossel do destino
Com força de menino
Que trago comigo
Pra esquecer de mim mesmo
Esquecer do mundo
E no centro do breu
Com olhares brilhantes
Fazer o que é belo
Aquilo que amo
Me realizar

PAJEÚ, H. Ser artista. In: Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos. Rio de Janeiro: Câmara Brasileira de Jovens Escritores, 2007. vol.41.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um brinde a vida: retorno ao mundo dos blogs


Hoje para mim foi um dia especial. Na verdade nada de especial aconteceu, mas me senti feliz por acordar (vivo) depois do sonho que tive na noite anterior. Depois de momentos comigo mesmo, pensando, refletindo, me senti um personagem de Clarice, um tanto complexo, estranho, singelo, uma mistura de cores, de sons, de um não sei o que. Senti-me a Ana procurando conforto no banco do Bonde. Me senti Ana ao olhar para o cego que mascava ciclete, e ver esse cego diante de mim, no espelho. Mas me senti feliz como a menina deitada na rede com o livro aberto, numa felicidade que era minha, só minha. Isso é estranho, mas gosto do jeito que sou, gosto desta balaio de coisas que torna esse sujeito transparente, isso que sou. Por vezes faço coisas inusitadas, só para me agradar, sobretudo quando me sinto feliz. Hoje dei um jantar para mim mesmo. Alguns amigos mangam de mim, dizem que preciso parar com isso e socializar esses jantares, mas gosto de jantar na minha companhia por vezes. É bom se dar um presente, um jantarzinho simples preparado por você mesmo, tente fazer isso, irá se sentir bem (ou não, rsrs). Hoje fiz isso.

A tarde estava maravilhosa, apesar da ameaça de chuva. Resolvi ir ao mercado comprar algo que me agradasse. Desta vez resolvi tirar do cardápio o ovo frito, apesar de ser desesperado por ovo frito, mas já o tinha comido no jantar de ontém. Gastei tudo que tinha no bolso, confesso que não era muita coisa (risos). Na volta em pleno por do sol, a chuva chegou, no começo pensei o que sempre penso: odeio chuva em horário comercial. Mas ao sentir os pingos caindo no meu rosto, a força com que escorriam pelos meus olhos e meus lábios fez com que eu não virasse a peste. Pareciam que queriam lavar minha alma, me revigorar. Naquele momento senti que a vida me abraçava com toda sua força, com toda sua alma e me lembrei de quando era criança e tomava banho de chuva lá no sertão de pernambuco (que raramente chovia). Percebi ainda como passei a odiar chuva depois que cheguei em São Paulo (com toda sua pressa). Me senti velho, em seguinda me senti de novo um menino, saudoso, deixando a chuva me molhar e segui assoviando uma cantiga de lá até em casa. Naquele momento a felicidade me invadiu de uma forma tão intensa que vinha admirando o que encontrava no caminho: um velho no ponto de ônibus, um gato fugindo da chuva, um grupo de estudantes embaixo de um toldo, tudo. Senti como a vida é feita de coisas pequenas, de cotidiano... percebi a complexidade de tudo...


Chegando comecei a preparar algo que gosto muito.

o cardápio:

Filé de frango grelhado com ervas finas
Batata gratinada no suco de laranja com alecrim e mussarela
Arroz branco ao leite
Salada de tomate e alface
Acompanhados por um Cabernet Sauvingnon Chileno 2005 ao som de Carla Bruni.

Nem sei se a combinação foi boa, mas gosto disso e foi o que deu para comprar.
Jantando sozinho no apartamento enorme e vazio que tenho passado esses dias me perguntei algo: será que sou uma pessoa solitária? Me peguei rindo sozinho e percebi que não, não sou solitário. Apesar da solidão ser uma companheira que me agrada, companheira fiel, percebi que na verdade eu me amo mais do que imaginava e adoro passar momentos desfrutando de minha companhia, sozinho, refletindo, sendo o outro que me constitui, sendo o outro que me dá acabamento. E ali diante de mim mesmo levantei a taça e brindei a vida maravilhosa que me foi presenteada, a essa vida que abraçou.

Se minha irmã visse a cena diria que sou louco, mas prefiro pensar que me pareço com um personagem de Clarice, algo assim um tanto humano. Após perceber que sou isso que sou, tão Pajeú, tão personagem real, resolvi voltar a ter um blog para contar para quem quiser ler as garatujas da minha vida, da vida de um artista anônimo que tenta viver longe de casa e se aventura neste mundo tão complexo. As garatujas de um artista que adora ovo frito e que tem fé demais na vida.

Xerossssssssssss